quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Historias para não esquecer

OS JOGOS INDÍGENAS EM PALMAS NO TOCANTINS

Satisfação e alegria foi o que senti quando fiquei sabendo que Palmas , no Tocantins, iria sediar a VI edição dos Jogos Indígenas em novembro de 2003.
Como sou tocantinense e descendente de índios, sempre acompanhei com interesse, a vida e os problemas dos indígenas brasileiros. Nesta olimpíada indígena, eu imaginei que iria acontecer uma grande festa entre nações indígenas, moradores e visitantes. Engano meu, o que acompanhei foi uma série de gafes das "elites despreparadas", como disse o advogado Dídimo Heleno Póvoa Aires, no artigo do dia 26 de outubro, em tendências e idéias, no Jornal do Tocantins.
Houve uma falta de preparo das polícias para "vigiar" a população indígena para não comprar bebidas alcoólicas, acabaram constrangendo pessoas que, por se parecer com um índio, teria de mostrar seus documentos pessoais para provar que não era indígena.
Ora, se um Estado é de composição étnica de maioria indígena ou de "alma Xerente, como diz o próprio hino do Tocantins, por quê então a população não deveria ter aparências de índios?
O Estado do Tocantins propaga que é " Um Estado que respeita os indígenas", mas não consegue escolher um representante com cultura e capacidade adequados para ocupar um cargo de Secretário de Turismo, justo esta categoria que estão investindo como um dos principais atrativos para o Estado. Um Secretário que diz a um jornal de grande circulação que "além do ecoturismo, o Tocantins também tem outros tipos de turismo que passeiam pelo místico e religioso, histórico e cultural, praias, ÍNDIOS(grifo meu), e pesca esportiva".(Jornal do Tocantins,02/11/03 p.8B). Observe bem essa expressão: veja como ele tratou os índios! Simplesmente como mais um produto, assim, como qualquer de consumo para turistas.
Um indígena da etnia Awá- Guajá fugiu. Por ser de uma nação com pouco contato com a cidade, ele se sentiu estressado no meio de tanto movimento e foi procurar um rio para pescar e errou o caminho de volta.. A polícia federal foi acionada para procurá-lo, e um assessor de comunicação da Polícia Federal disse que o indígena fugiu porque é "um indígena ainda ACULTURADO"(grifo meu), (Jornal do Tocantins,05/11/03,p.4B). Este episódio mostra todo o despreparo da polícia, dos organizadores do evento e seus preconceitos.
Martins, em Expropriação e Violência(apud Damiani, p. 101,98), fala do processo do índio no Brasil, realizado pelo Estado, como uma forma de homogeinizá-lo social, cultural e politicamente, aprofundando o processo de dominação. É lamentável notar que o Estado do Tocantins, que diz lutar pelos direitos indígenas, está perdendo toda a oportunidade de mostrar a sua luta por estes povos.
" Os índios são removidos para territórios indistintos e esse processo dessacraliza a terra indígena, brutalizando o índio".(ibidem).
A estrutura fundiária brasileira é pobre, despreparada e não condiz com a realidade da nação. É hora de mudar, tratar os problemas indígenas com seriedade e não como simples espetáculo para turistas, principalmente estrangeiros. Não adianta pessoas ligadas às ditas "culturas indígenas" participarem de congressos no Estrangeiro e não trabalhar para mudar a sua política para com a população indígena.

2 comentários:

  1. Muito bom o seu texto... assim como acontece com outras culturas, nosso país (infelizmente) ainda não tem uma política séria que priorize a identidade indígena, esse texto é de 2003, mas poderia muito bem ter sido escrito hoje, 6 anos depois, pois a realidade é a mesma.

    Parabéns!

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  2. Parabéns!

    Arrasou nesse texto...
    Visite meu blog drjcsilvapsi@blogspot.com

    Beijos.

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