quarta-feira, 27 de julho de 2011

Músicas da minha infância

Há muito tempo eu não visitava o Estado do Tocantins no mês de julho. É o mês mais agradável de lá; temperaturas amenas, poucas chuvas (a chuva do caju não pode faltar). Ah, os cajuzinhos! Ainda tem no Cerrado, na porta da rua. Fico feliz.
As pessoas de férias e muitas cachoeiras e praias dos rios Tocantins (foto direita), Araguaia e Rio do Sono para curtir. Os moradores nativos do Estado não gostam de sair de lá em julho e os que moram fora, vem visitar familiares, amigos ou somente matar a saudade dos rios. Essa relação homem-rio é visceral, é difícil explicar esse sentimento de pertencimento a estes rios, principalmente ao rio Tocantins. O povo tocantinense ainda tem essa particularidade, esse bairrismo, talvez um certo lirismo. Mesmo com quase 30 anos morando em outros lugares, o meu bairrismo ainda permanece, e nesse ano senti-o mais acentuado. Deve ser pelo tempo que fiquei distante ou pelas mudanças que presenciei e algumas não são boas, principalmente as que mexem com a relação homem-rio.
Isso mexeu com meus sentimentos bairrista. Mas o que quero falar mesmo é de música. Isso, não sou especialista, nem conhecedora de música, apenas gosto de música. E visitando várias cidades do Estado do Tocantins, percebi que a população ainda ouve determinadas músicas que não estão na moda, nem são consideradas cult. E o que me chamou mais a atenção foi justamente serem essas músicas, consideradas bregas do bregas ainda fazerem sucessos em casa, sendo ouvidas altas ou nos bares das cidades.
Aparecida do Rio Negro, uma pequena cidade a 80 km de Palmas, a capital, com 4 mil habitantes, 33 bares, encravada entre a bela Serra do Lajeado perto de tres rios (mapa esquerda). Ela é apenas o ´portal para o Jalapão`, como a própria prefeitura da cidade diz. Pois 40 quilômetros após, fica a cidade de Novo Acordo, a beira do rio do Sono, já é o Jalapão. Eu estava ás onze horas da manhã sentada num bar com meu namorado e um amigo, de fronte a estrada que sai para o Jalapão, é um ponto estratégico, vendo a vida passar.
O bar estava cheio de homens, eu era a única mulher. De repente ouço uma música que eu havia ouvido ainda criança, não me lembrava mais. As pessoas aplaudem o dono do bar. Alguns cantam. E eu, coincidente mente também começo a cantar a música. Mas como? Ah, eu a conhecia, sim, era uma música que eu ouvia no rádio quando criança e que fez muito sucesso. Fui ver com o dono do bar a o Cd, era uma coletânea de músicas bregas, mas classificadas como românticas de todos os tempos e que fizeram muito sucesso na década de 70. E a música em questão era de José Ribeiro, a música: ´A porta da cozinha`. Que título. Era uma coletânea de 20 músicas. Ouvi todas, e lembrei-me de todas. Eram músicas que falavam de amor, desilusão, traições, mulheres, ciúmes, vinganças, amores impossíveis. eu só as conhecia por rádio, pois somente na década de 80 que a tv chegou a Região Norte, hoje Tocantins. Lembro-me que essas músicas marcaram minha infância e minha imaginação. Raramente tinhamos acesso a algum álbum onde poderíamos conhecer a foto do artista. Eles eram os prícipes encantados de muitas moças e senhoras casadas sonhadoras. Anos depois, quando fui morar na capital, esses artista não faziam mais sucesso, mas pude conferir algumas de suas fisionomias e alguns desmoronaram a imagem de meu príncipe encantado. Alguns desses artistas morreram de forma trágica, mas alguns continuam cantando pelos bares do Brasil e ainda fazem sucesso. Outros mudaram o estilo musical, mas continuam com sua arte. Eu gostaria de falar de todos, mas vou falar apenas de alguns deles:

JOSÉ RIBEIRO

José Cipriano, nome artístico José Ribeiro é natural de Barbacena, Minas Gerais. Antes de ficar famoso pelo seu romantismo, Ribeiro tentou a carreira como cantor de baião. Em 1972 ele estourou de norte a sul do país fazendo parte do casting da gravadora mais importante do Brasil, a CBS. A música ´A Beleza da Rosa` é até hoje uma das mais tocadas no nordeste do Brasil. Mas a música que ouvi em Aparecida do Rio Negro, foi a música ´Na porta da cozinha`, que na região Norte (hoje Tocantins), foi a que mais fez sucesso.

Na porta da cozinha



CARLOS ALEXANDRE

Pedro Soares Bezerra foi um nome pouco conhecido do grande público. Já que na vida artística ele era batizado como Carlos Alexandre.
Ídolo popular, ninguém poderia representar melhor o bairro como Carlos Alexandre. Sua discografia está registrada em mais de 200 composições gravadas em 3 compactos, 14 LPs, sendo 2 LPs e 4 CDs pós-morte. Seu maior sucesso foi ´Feiticeira`.

Feiticeira



BARTÔ GALENO

Bartolomeu da Silva (Paraíba, 20 de maio de 1950) ou Bartô Galeno, é um cantor e compositor brasileiro do estilo brega. Seu primeiro disco foi na década de 1970 intitulada ´No toca-fita do meu carro`, a música-título se tornou o grande sucesso do cantor.Mas "Só lembranças" arrebatou corações. Em 1997 lançou a coletânea 20 Super Sucessos, com a participação de Agnaldo Timóteo. No ano de 2009, foi destaque na Virada Cultural na cidade de São Paulo. Conheço pessoas que são apaixonadas por ele até hoje.

Só lembranças




LINDOMAR CASTILHO

Lindomar Castilho (nascido em 21 de janeiro de 1940, Rio Verde, GO) é cantor e instrumentista, sendo mais conhecido pela música-baião ´Camarada` pelos bem-humorados boleros ´Você é doida demais`.
E eu amo a sua mãe e também pelo samba-canção bem lírico ´Tudo tem a Ver`. O cantor Lindomar Castilho fazia muito sucesso na década de 70, porém, sua carreira foi interrompida por um trágico assassinato.
No dia 30 de março de 1981, o astro encontrou sua segunda esposa, Eliane Grammont, ao encontrá-la com o amante. Na verdade, Eliane estava trabalhando, era cantora e estava acompanhada do namorado, pois ela e Lindomar estavam separados. Depois da separação, a cantora voltou a fazer shows. Na madrugada de 30 de março de 1981, ela cantava no Café Belle Époque, em São Paulo, acompanhada pelo violão de seu novo namorado, Carlos Randall, primo de Lindomar. Enquanto cantava os versos ´Agora era fatal que o faz de conta terminasse assim`, da canção ´João e Maria`, de Chico Buarque, levou cinco tiros pelas costas. O autor do crime era seu ex-marido. Lindomar Castilho foi condenado a 12 anos e dois meses de prisão. Ele cumpriu sua pena e voltou a fazer shows ao vivo em 1991. Lindomar Castilho ganhou liberdade em 1996 e tenta agora retomar a carreira. Seu último CD, Lindomar Castilho ao Vivo foi lançado em 2000. Uma de suas grandes canções é ´Doida Demais`, que foi tema do programa ´Os Normais`, protagonizado pelos atores Fernanda Torres e Luís Fernando Guimarães, que já foi parar nos cinemas.

Você é doida demais




EVALDO BRAGA

Evaldo Braga (Campos dos Goytacazes, 1948 — Três Rios, 31 de janeiro de 1973) foi um cantor e compositor brasileiro do estilo popular. Evaldo Braga não teve pais conhecidos, tendo sido criado em um orfanato fluminense, juntamente com o ex-jogador Dadá Maravilha. Sua mãe, uma prostituta da cidade de Campos, o abandonou numa lata de lixo. Foi nela que se inspirou para compor seu maior sucesso, ´Eu Não Sou Lixo`. Boêmio, alcoólatra, morreu em um acidente automobilístico na BR-3 (Rio-Juiz de Fora), ocupando um Volkswagen TL, após tentativa de ultrapassagem forçada segundo populares. Importante ressaltar que no momento do acidente, Evaldo Braga não dirigia o carro, mas seu motorista. Seu túmulo é um dos mais visitados no feriado de Finados no Cemitério do Caju, Rio de Janeiro.
Sua morte me marcou muito. Lembro-me que fiquei sabendo pelo rádio e suas músicas tocavam sem parar. E eu, não entendia nada, mas sentia uma tristeza muito grande pela morte deste artista que não é até hoje, reconhecido, mas que seus fãs não o esquece. E tenho um irmão que nasceu no ano da sua morte, ganhou como brinde o mesmo nome do artista.

´Sorria, sorria`




RAY DOUGLAS

Eu poderia continuar falando desses cantores que ouvi enquanto observava a cidade, Amilton Lelo, Barros de Alencar e outros que ouvi no bar. E para terminar, estou ouvindo um cantor que está fazendo o maior sucesso no Maranhão e Tocantins. Ray Dougas.
Ray Douglas, o cantor e compositor nascido em Grajaú do Maranhão, cidade onde meu pai nasceu, iniciou sua carreira artística aos nove anos de idade apresentando-se em bares de seresta. No momento ele é o maior artista da região.

Sinto sua falta



Entre músicas populares, sim, populares, conversas e cerveja, tive um dia agradabilíssimo em Aparecida do Rio Negro no Tocantins. E fico feliz que ainda exista lugares onde as pessoas são simplesmente felizes, sem medo de serem rotuladas por seus gostos musicais, pois música, independente do estilo, ritmo, desde que agrade ao público, é um licor para a alma.











Pesquisar este blog