sábado, 24 de novembro de 2012

Identidade tocantinense











  
   Falar de identidade cultural na Geografia, não é fácil. Afinal, o que seria uma Identidade cultural no século XXI quando está ocorrendo todo um processo globalizado ou mundializado?
Com a globalização econômica esperava-se uma homogeneização das culturas, que seria uma “mistura” entre os povos. O que não ocorreu na prática, pois ao invés das culturas se misturarem, as comunidades tem  tentado  se protegerem e  preservar a sua identidade cultural, ou seja, o ser humano não consegue viver sem seus laços com o passado, com suas raízes, mostrando que ele precisa de seu espaço sócio-cultural, precisa de sua identificação.
  Como diz a geógrafa Iná Elias de Castro (1992), a diferenciação espacial define-se na identidade que se realiza nas relações homem/meio, em seu nível mais elementar. Assim, a relação do homem com o espaço que o cerca pode ser interpretada como um arquétipo, como um elemento essencial da estrutura psicológica do indivíduo.
  O ser humano estabelece uma relação de afetividade com o meio em que vive, e acaba criando raízes. “O enraizamento é talvez a necessidade mais importante e mais desconhecida da alma humana. É uma das mais difíceis de definir”.
  O indivíduo cria laços com seu espaço vivido, e começa a delimitar o seu território diz o geógrafo Santos (2001), “ o território é o chão e mais a população, isto é, uma identidade, o fato e o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O território é a base do trabalho, da residência, das trocas materiais, espirituais e da vida sobre os quais ele influi”.
  Para o prof. Noé Sandes, a arte e a cultura são eternas, assim como a busca por sua identidade cultural. Então todos têm uma base cultural mesmo sem ser reconhecida? Foi a partir desse pressuposto que resolvi falar da identidade cultural do Estado do Tocantins. Um Estado que fez 22 anos no dia 05 de outubro. O homen tocantinense, notadamente do interior, é por excelência um sábio, diz  Liberato Póvoa (1996). O tocantinense trouxe como legado de seus antepassados, um falar todo seu, que por ora facilita, ora complica o entendimento de seu interlocutor.
  Para o prof. Rogério Haesbaert, se a identidade de um indivíduo é dificilmente encontrada, uma identidade mais ampla, envolvendo um grupo de indivíduos ou mesmo uma “cultura” ou “civilização”, pode ser uma temeridade. 
   Toda identificação, regional ou territorial, necessita de um símbolo. Por isso o geógrafo Haesbaert diz que todo recorte espacial/territorial mais concreto, tem seu sentido reelaborado. A transposição simbólica de sua “escala de ação” não ocorre sem perdas, mudanças e mesmo barganhas com outras identidades.
  Atualmente no Tocantins está ocorrendo um grande fluxo migratório de gaúchos, catarinenses e paranaenses. Que são atraídos para o Estado pela política de  incentivos fiscais e financiamentos  para a implantação de vários projetos no setor agropecuário.
  Iná Elias de Castro afirma que o poder público pode inibir ou estimular identidades regionais, assim como forjá-las. Percebemos que no Estado do Tocantins, desde sua criação, há um poder político centralizador. Esse poder não quer abrir mão dos seus interesses e tenta a qualquer custo, forjar  uma identidade cultural ao tocantinense.
   Haesbaert diz que “uma região é definida por critérios político-administrativos, pode ser uma escala diferente daquela região de vivência (ou de identidade)”.  Portanto, no Tocantins, essa identidade já existe e parece  não agradar à elite dominante. Essa elite tem tentado usar uma “coerção” cultural,
criando alguns símbolos e utilizando  a mídia para  fazer um trabalho de convencimento. Tentando fazer  com que o tocantinense  assimile uma nova cultura, adequada aos seus interesses.
   Pedro Demo (1996) diz que a desagregação das identidades culturais  contribui para enfraquecer um povo e leva os a consolidar posições de dependência e de subalternidade. Através dos meios de comunicação, da pressão política e da invasão de padrões externos.
  O povo tocantinense ainda não se deu conta do que está acontecendo com esse processo de imposição cultural. Eles estão apáticos e essa apatia está favorecendo a elite dominante que cada dia está mais forte com os símbolos impostos.
  Com a criação do Estado do Tocantins em 1988 o primeiro  governador José Wilson Siqueira Campos sentiu que para ganhar notoriedade e divulgar o “novo” Estado. E para atrair investimentos teria de criar  símbolos para identificar o Estado. Criou o girassol como o símbolo da capital Palmas. E fez uma propaganda tão maciça, parecer que esta flor é o símbolo do Estado. A Bandeira, que também tem o lema “ Tocantins, um lugar que o sol é para todos”. No Brasão tem uma frase em tupi-guarani que diz: CO YVY ORE RETAMA, que significa “Essa Terra é minha”.
  Ele constrói Palmas, forjando-a como a capital ecológica e do conhecimento. Em discurso que  fez na Assembléia Legislativa do Tocantins, em 05/02/1991, diz: “Palmas deu ao tocantinense, de forma robusta e de indescritível beleza, a sua identidade definitiva”.         
 O escritor Bernardo Élis era contra a separação do Estado durante a luta separatista. Ele disse que argumentos como “diversidade cultural ou de hábitos, usos e costumes” não era um motivo relevante e não existe “comunidade homogênea em parte alguma.”

  Um representante da região norte defendia a diferença cultural como um dos principais problemas do norte. Ele disse a Bernardo Élis em uma carta aberta que não tinha nada em comum com as  coisas do sul. E a capital Goiânia não dizia nada para o povo do norte, ela só os sufocava em todos sentidos.  Se o tocantinense não tem identificação cultural com Goiás, então onde está a sua identificação?
  O escritor Liberato Póvoa (1996) diz que o tocantinense é de raízes predominantemente nordestina, em geral, maranhenses, piauienses e baianos. Ressalta ainda uma simbologia, dizendo que o tocantinense é chamado de “oreia seca”. Talvez isso seja uma forma de igualar o tocantinense ao nordestino, que normalmente é chamado de “pé rachado”, “cabeça chata”, termo utilizado de forma pejorativa para caracterizar a população pobre . O autor é tocantinense e faz parte da elite cultural do Tocantins.
Sússia de Natividade
   O Estado tem suas festas populares, a Sússia e Catira de Natividade, a Jiquitaia de Almas (herdadas da cultura negra), a Cavalhadas de Taguatinga, a Caçada da rainha de Monte do Carmo, a Kupré dos índios Xerentes de Tocantínia, Hetoroky (lê-se: retorokã) dos índios Karajás e Javaés, da ilha do Bananal.
  Também tem um artesanato expressivo e rico. O mais conhecido é feito com capim dourado do Jalapão. Uma espécie de capim dourado quando maduro e é usado pelos artesãos para fazer vários adereços, como bolsas, chapéus, braceletes, e uma variedade de untesílios.
  O governo do Estado vende uma imagem de modernidade, um Estado do Terceiro Milênio. O fato do povo tocantinense comer farinha de puba e outros pratos de derivados da mandioca não é interessante para a elite,  mostrar os hábitos considerados de povo  “nativo”, “primitivo”, “atrasado”. 
  O artesanato feito com o capim dourado, um tipo de capim próprio do Jalapão, que é feito pelos artesões locais, mas que foi ensinado pelos índios Xerentes. Este artesanato está sendo comercializado  pelas Organizações Não Governamentais (ONGS), vendido para o Brasil e o estrangeiro. Mas em nenhum momento falam que é de origem indígena, os índios sequer são mencionados.
  O governo do estado do Tocantins, através da  Secretaria de Cultura (Naturatins) e a Fundação Cultural de Artesanato e  arte indígena, promoveram no ano de 2000 uma oficina com os artesãos do Jalapão um designer de São Paulo. Este veio especialmente para lhes ensinar a técnica de produção para comercialização dos produtos feitos, com o capim dourado, fazendo com isso, que se crie um ´industrianato`, ao invés do artesanato original.
   O sociológo José de Souza Martins fala do processo de “emancipação” do índio no Brasil realizado pelo Estado, como uma forma de homogeinizá-lo social, cultural e politicamente aprofundando o processo de dominação. Os índios são removidos para territórios indistintos, dessacralizando a sua terra e brutalizando-os.  Mas as comunidades indígenas fazem parte da formação cultural do Tocantins. Eles fazem parte da população local e estão passando por problemas modernos. Como os vividos pela população da cidade, a miséria, a fome, e desnutrição infantil.

Povo Karajá
O Tocantins é um Estado que ainda tem a maior população indígena do Brasil, é uma comunidade básica na formação do povo tocantinense. São basicamente cinco comunidades: Krahô, Apinajés, Xerentes, Javaés, Karajás.
  Falar de identidade cultural tocantinense e esquecer os indígenas é inadmissível. Assim como também esquecer a população negra que foi fundamental para a formação da história e cultura do tocantinense. Os negros são mal representados na  História do Tocantins, às vezes aparecem em formas de gravuras, diminuídos. Existem várias comunidades Quilombolas no Tocantins. 
 Assim como o branco, que só agora aparece na elite, são representados como se fossem de outros lugares, como se não fizessem parte da formação étnica do Tocantins. Seria vergonha para eles se mostrarem como tocantinenses?
Comunidade Quilombola do Prata-Jalapão
    O povo tocantinense precisa urgentemente mostrar as suas origens. E valorizar o que lhe é peculiar, como sua fala, seus hábitos alimentares, ou corre sérios riscos de serem apenas mais um povo que se deixou invadir, não resistindo ao invasor. E no caso do tocantinense, ainda é mais grave, pois sequer sua cultura foi conhecida.
    O tocantinense tem toda uma história especial, hábitos alimentares originais. Ele pode pensar em mostrar sua identidade cultural a partir de seus pratos “exóticos”: por que não servir semberaba de buriti, murici, bacaba com farinha, bolo de puba, cuscuz de arroz, chambari. É original, saboroso e bonito.

Bacaba
  Quando o povo tomar a iniciativa de mostrar a sua cultura, não se deixar ofuscar pela elite dominante. Ele crescerá e aparecerá fazendo com que a própria elite assimile e valorize. Ou pelo menos respeite também esse tesouro cultural, sentindo orgulho de ser tocantinense.
A canção Nóis é jeca mais é jóia (1990) do cantor e compositor tocantinense Juraíldes da Cruz fala justamente dessa dominação cultural e nos dá um exemplo de como nos deixamos influenciar por outras culturas:
                  “Se farinha fosse americana, mandioca importada
banquete de bacana era farinhada”
                                        
     

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A formação territorial do Estado do Tocantins(2)

Dando continuidade à Formação territorial do Estado do Tocantins, vou falar do seu processo histórico, os seus primeiros invasores e como foi surgindo o seu território.

 A formação territorial do Estado do Tocantins


      Capitanias de Goiás 1809    Fonte: OLIVEIRA, Ivanilton José, readaptação 2003. 
A formação territorial do Estado do Tocantins tem um longo processo histórico. Ela foi se formando conforme sua ocupação espacial e interesses socioeconômicos e políticos. Como o Tocantins era extensão territorial do Estado de Goiás, e este, colônia pertencente capitania de São Paulo, fica impossível falar de sua formação territorial, sem retomarmos a História de Goiás e sua relação com São Paulo.
“Falar de território é fazer uma referência implícita à noção de limite que, mesmo não sendo traçado, como em geral ocorre, exprime a relação que um grupo mantém com uma porção do espaço”. (Raffestin, 1980).
Goiás foi descoberto por paulistas e era uma área teoricamente pertencente á capitania de São Paulo. Por isso, de inicio, foi considerado um território de Minas Gerais dentro dessa capitania. (Palacín, 1994).
Quando os ingleses e franceses foram expulsos da região Norte do Brasil, autoridades do reino tentam achar uma forma de proteger esta e, colonizá-la. Assim, mandam, em 1625, a primeira missão jesuíta comandada por Cristóvão Severim de Lisboa para colonizar e cristianizar os nativos.
Enquanto os Bandeirantes paulistas invadiam o Alto e Médio Araguaia para captura de índios que eram levados para as lavouras de cana-de-açúcar e engenhos em São Vicente (São Paulo), os jesuítas instalam-se no Baixo Tocantins, onde formam o aldeamento Vila de Cametá. Este povoamento começou a prosperar com negócios de carne de sol, açúcar e riquezas naturais, transportados por canoas pelo Rio Tocantins, até Vila de Belém do Grão-Pará.
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Os donos de engenhos ficam sabendo da prosperidade da Vila e alegando falta de recursos para comprar escravos africanos, os paulistas formam Bandeiras para atacar as missões e escravizar os índios com a aprovação da Coroa e da igreja Católica, um negócio lucrativo com isenção de impostos e mão-de-obra- escrava. Expedições de bandeirantes fortemente armados desciam o Baixo Tocantins, destruindo os núcleos de colonização e espalhando terror e dizimando a população indígena. Estes atos eram tão violentos que Alencastre um ex- Governador da província de Goiás escreveu:
Um dia, que os sofrimentos subiram de ponto, um dia que o grito de milhares de vitimas ecoou por todas as tribos, e fez sublevar as iras filhos das florestas, o ódio e a vingança começaram a manifestarem-se terríveis, e em cada golpe que desfechava, viam os homens do governo e sentia o povo quanto tinha sido errada a política do morticínio e da devastação. Ódio e vingança foram esse tão profundo, que se transmitido de geração em geração como uma herança sagrada, quase como um dogma religioso. (ALENCASTRE, 1979 p.21)
Com as Entradas que saíam de Pernambuco e da Bahia através do Rio São Francisco, final do século XVII, abriu caminho para a criação de gado e descoberta de ouro no Alto São Francisco e Alto Tocantins. Região compreendida como Terras Novas, Gerais dos Duros (hoje, divisa de Tocantins, Goiás e Bahia) e Chapada das Mangabeiras (hoje divisa do Tocantins, Piauí e Maranhão).
Com as constantes entradas de pernambucanos, paulistas e baianos no vale do São Francisco, devido à maior facilidade de trânsito e menor distância para a Bahia e Pernambuco. A coroa resolveu delimitar a margem leste desse rio para ser conquistada pela Bahia e a margem oeste (do são Francisco até o Alto Tocantins), ficaria com Pernambuco, cujos limites iam até Canindé, hoje Bahia (Anuário do Tocantins, 2000).
A partir daí, começou a afluir gente para povoação das novas terras descobertas, começaram a surgir povoados nas proximidades dos rios. Eram vaqueiros que vinham com suas boiadas, fugindo da seca que assolava Pernambuco, Piauí, e Bahia. Eles vinham procurando terras novas, pastos bons. Assim, como Terras Novas, a região ficou conhecida. Eles vinham com suas famílias, fixando-se nesses locais.
No século XVIII, vaqueiros descobrem ouro em Terras Novas. (Minaçú-Go, Chapada e Natividade-TO). A região passa a ser o novo eldorado para milhares de vaqueiros, donos de currais, funcionários do reino e aventureiros.
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Alegando direito territorial das lavras, e em nome do reino lusitano, o Maranhão passa a administrar e tributar os primeiros núcleos urbanos de Terras Novas. Os donos de engenhos e mineradoras de São Paulo, que já dominavam a região ameaçaram uma guerra contra os maranhenses, pois as Entradas e Bandeiras eram financiadas por eles e Goiás ainda era capitania de São Paulo. A questão foi levada a Lisboa e o conflito resolvido sob jurisdição. As minas de ouro do Tocantins ficavam em território da capitania de São Paulo. O Reino autorizou a retirada dos maranhenses.
Os paulistas passam a administrar a região do Tocantins. A primeira medida foi fechar a navegação dos rios Araguaia e Tocantins com o comércio de Belém do Grão Pará, para evitar contatos com os maranhenses e o contrabando de ouro. (Anuário do Tocantins, 2000).
Mas nem a proibição dos paulistas conseguiu conter a ocupação do Alto Tocantins (Norte de Goiás). Os conflitos aumentavam, pois os paulistas e o Reino só vislumbravam lucros e as divergências com a Coroa só iam formando um estado de desconfiança e revolta na população. A região era pobre, mal-assistida e de difícil acesso e ainda tinha de pagar altos impostos de seus produtos.
Com a Independência de Goiás (1744) e a queda da mineração (1779) a região fica completamente abandonada pela Capitania e os Bandeirantes, permanecendo somente os garimpeiros, vaqueiros ali já havia se fixado. Os donos de currais[1] aumentam o gado para ativar a economia da região, tornaram-se verdadeiros latifundiários, e com poderes para disputar e exigir do Reino melhorias para a região e possíveis trocas de favores políticos.
No inicio do século XIX a região do Norte de Goiás, tem incentivos do Reino, pois ela começa a chamar a atenção com novas possibilidades de lucros. Nesse período de abandono da Capitania, a Região descobre outras formas de comércio, como a exportação de carne de sol, couro, fumo, algodão, cachaça, açúcar. Eles já mantinham uma forte relação comercial com as Comarcas do Pará, via Belém e até importavam produtos manufaturados da Europa. E também sal, animais de carga de Recife e Salvador. Pelo porto de Belém, compravam escravos vindos da África, ferro e chumbo. (Silva, 1996).
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A região começa a prosperar e chama a atenção do Reino novamente sobre as Terras Novas. Este fecha os portos de Belém e resolve levar uma administração mais para perto região, criando assim, uma província para incentivar o povoamento do Norte de Goiás e para captar e fiscalizar os impostos. Também foram construídos presídios para proteger os povoados de ataques indígenas e roubos.
Devido constantes reclamações dos curraleiros nortense por cobranças abusivas de impostos taxados sobre a pecuária e forte influencia política do Ouvidor
Joaquim Teotônio Segurado, em 1809, a capitania de Goiás foi dividida em duas Comarcas: O Rio Araguaia e o atual Estado de Goiás seriam administrados por um governador, o capitão general Manoel Inácio de Sampaio e o Rio Tocantins, pelo Ouvidor Joaquim Theotônio Segurado, político de confiança do Reino. Sendo designada a construção de sua sede na foz do Rio Itacaiúnas, onde hoje é Marabá-PA. O Ouvidor tinha plenos poderes para nomear, exonerar, taxar, cobrar, impostos e criar novos Distritos administrativos. Um de seus grandes problemas era administrar uma extensa área territorial, com uma população escassa e esparsa. Ele resolve mudar a província para outra localidade mais central e de melhor acesso com os portos. No Norte da comarca só existiam as povoações de são Pedro de Alcântara (Carolina-MA) e Riachão (Goiatins). Foi autorizada pelo príncipe regente, D. João VI (ele chegou de Portugal em 1808). A nova sede teria o mesmo nome, mas passariam a ter outros povoados como Julgados[2]: Porto Real (Porto Nacional), Natividade, Conceição, Arraias, São Félix, Cavalcante, Traíras e Flores. O governo foi sediado em Cavalcante até a construção da nova sede.
“E eis que D. João VI assina a criação da comarca de São João das Duas Barras, ex Norte de Goiás, plantando, assim, a semente da sonhada província do Tocantins, hoje Estado do Tocantins”. (Silva, 1996).
Desde o início da descoberta de Goiás, a luta territorial foi constante. A Região Norte do Estado foi ora ganhando, ora perdendo território até chegar ao último grande contorno territorial em 1988 com a formação do Estado do Tocantins.
A Região Norte do Estado de Goiás, hoje Estado do Tocantins, tinha a formação de Julgados (conforme figura) que era uma forma de facilitar a administração local. Todo o Julgado tinha uma cidade sede administrativa. Esta divisão permaneceu até 1809, quando Goiás foi dividido em duas Comarcas.

 










                   [1] Os donos de currais eram os patrões dos vaqueiros, eles eram os responsáveis pelas sesmarias, sendo assim, os donos das terras.

                   [2]  Julgado era uma região administrativa com uma cidade sede principal.






quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A formação territorial do Estado do Tocantins(1)


"Antes de examinar o ato pelo qual um povo escolhe um rei, seria bom examinar o ato pelo qual um povo é um povo, pois este ato sendo necessariamente anterior ao outro é o verdadeiro fundamento da sociedade”.
                                  


 
                                                                                              Jean-Jacques Rousseau
Foi assim que comecei a minha tese sobre a formação territorial e cultural do Estado do Tocantins.
Gostaria de compartilhar minhas descobertas e também poder ajudar pessoas que se interessam pelo assunto. Peço apenas que em respeito, cite a fonte e o autor.
A partir de hoje, vou contar um pouco dessa história.
Neste trabalho, é abordada a criação e a formação territorial do Estado do Tocantins, e a possibilidade de uma criação de Identidade Cultural, pois desde a formação do novo Estado da Federação, o Tocantins, em 1988, ficou-me um questionamento: Como será formar uma identidade? Como fortalecê-la? É necessária a criação de uma identidade cultural? A partir desses pressupostos, observando a difícil tarefa da população se adaptar a uma nova dimensão sociocultural, sem, no entanto, perder suas referências com seu espaço vivido e criar uma nova delimitação espacial. Tem-se como objetivo geral, buscar respostas para estes questionamentos dentro da Geografia, usando como referencial teórico Raffestin, Haesbaert e Y Fu Tuan para abordar territorialidades e espaços vividos.
Entre os objetivos específicos está a análise da História e da criação do Estado do Tocantins, a luta por sua independência administrativa e territorial, é possível delimitar algumas dessas formações identitárias e simbólicas, já existentes ou mesmo que às vezes elas sejam fruto de uma coerção política.
A constante luta de políticos locais para impor suas coerções e interesses, não levando em conta a opinião da população local e luta territorial e simbólica ainda são presentes no Estado. A metodologia de pesquisa se volta para análises de textos, artigos, livros e revista que abordaram a história e a criação do Estado do Tocantins.
            Esta monografia é continuidade de um trabalho anterior e (RAMOS, 2003) e apresentado em dois eventos acadêmicos de Geografia. A monografia está dividida em três capítulos. No primeiro aborda-se a formação territorial do Estado do Tocantins, os tempos coloniais, primeira metade do século XX, o Governo Independente do Norte, tumultos e a divisão político-administrativa. No segundo capítulo, apresenta-se a diversidade étnico-cultural, os primeiros habitantes, indígenas, negros e colonizador. No terceiro capítulo, aborda-se a analisam-se os símbolos culturais tocantinense como o girassol, a Bandeira, o Brasão e o Hino.      
Localização
Criado em 1988, pela Assembléia Nacional Constituinte, o Tocantins é o mais novo dos 26 estados do Brasil. Localiza-se na região Norte, exatamente no centro geográfico do país, condição que lhe possibilita fazer limites com estados do Nordeste, Centro-Oeste e do próprio Norte.
Limites: Ao Norte: Maranhão e Pará, Ao Sul: Goiás, Ao Leste; Maranhão, Piauí e Bahia, Ao Oeste: Pará e Mato Grosso.

FÍSICOS
Área territorial Km²
278.420,7
% da área do País
3,26%
Localização Geográfica
5º10'6'' e 13º27'59'' lat. Sul

45º41'46'' e 50º 44'33'' long. Oeste
Temperatura Média Anual
24ºC e 35ºC
Altitude Média
260 m
População
1.383.453      habitantes
Fonte: IBGE, 2010
Antes da separação do Estado de Goiás em 1988, o norte de Goiás, atual Tocantins, fazia parte da Região Centro-Oeste. Sua inserção na Região Norte, foi uma hábil jogada política, que viam maior visibilidade para o Estado, ele sendo da Região Amazônica. Esta inserção não teve consultas populares nem legais, foi política. Assim constata Cazzolato
[...] a análise dos contornos territoriais da região Norte mostra uma característica atípica: o estado do Tocantins a ela se agrega como um apêndice, já que a maioria de suas fronteiras o conectam a estados de outras regiões. E a conexão física do Tocantins com a região Norte se dá com apenas um dos sete estados da região. Essa condição, tomada isoladamente, pode não ser um dado importante na caracterização de uma região, mas pode apontar para a necessidade de ajustes perimétricos. [...] Mesmo após a instalação do Estado, e até a atualidade, todos os textos pesquisados que resumem a história do Tocantins omitem sua transferência do Centro-Oeste para o Norte. Uma das poucas exceções é a entrevista concedida em agosto de 2003, pelo então governador Marcelo de Carvalho Miranda (PSDB), à revista eletrônica Cidades do Brasil. Questionado sobre "a nova política operacional do Banco da Amazônia (Basa)", em termos de "mudanças positivas para o estado", assim respondeu:
Sem dúvida. Durante a criação do Estado do Tocantins, o governador

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Siqueira Campos teve a sensibilidade de colocá-lo geograficamente na Região Norte. Esta decisão tem sido fundamental para que possamos apossar dos incentivos constitucionais destinados aos programas e projetos desenvolvidos na região, com juros mais baratos e condições especiais de pagamento. [grifo nosso]. Afirmações como essa revelam o quanto as questões de ordem política balizaram a transferência regional do Tocantins, assim como o próprio movimento de emancipação, em que ressalta o empenho pessoal do deputado Siqueira Campos. (CAZZOLATO, 2007)  

 Grandes Regiões IBGE desde 1989, quando foi instalado o Estado do Tocantins.Fonte: CAZZOLATO, 2007

 

      Grandes Regiões IBGE em 1988, antes da promulgação da Nova ConstituiçãoFonte: CAZZOLATO, 2007






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