Enfim, fui recenseada! Estava curiosa para saber o que o recenseador do IBGE iria me perguntar. Finalmente eu poderia contribuir com informações sobre o povo brasileiro. Mas logo fiquei decepcionada. Não respondi quase nada! Aí questionei o recenseador: por quê somente estes itens perguntados: data de nascimento? cor? casa própria? qual valor da renda? quem é o responsável? teve contato com estrangeiro no ano passado? Só isso!!!
Rogério, 23 anos, graduado em Biologia pela UFG de Goiânia, o recenseador, me disse que o questionário era escolhido por sorteio, e eu fui sorteada para ser usado o questionário básico. O aparelho usado para coleta de dados era então o responsável. Bem, respondi. Mas fiquei com uma grande dúvida: será que realmente esses dados irão ajudar a traçar o atual perfil da população brasileira? E minha maior dúvida ficou quando fui questionada sobre qual a minha cor. Tem cinco opções: BRANCO-NEGRO-AMARELO-PARDO-INDÍGENA,nessa ordem. Não me enquandro em nenhuma destas opções, mas por afinidade, respondí que sou Indígena. Aí tive uma surpresa: ele me perguntou se eu sabia qual "tribo" eu era. Respondí que sim,eu sabia, e falei o nome.
Mas não sou indígena,sou indiodescendente, sou bisneta de indígena e negro, mas tenho um biotipo mais parecido com indígenas, e felizmente eu conheço uma parte da minha história. Perguntei por curiosidade, caso eu respondesse que sou negra se tinha a opção para dizer de qual povo sou descendente. Claro que não existe esta opção. A imagem que temos dos negros brasileiros é de um povo sem passado, sem descendentes ou mais próximo descente é um avô ou bisavô escravo. Não sabe de qual lugar da África veio. O negro brasileiro provavelmente nunca saberá dizer de onde veio, pois sua história foi apagada! Esta situação também ocorre com a popuulação indígena que a maioria foi dizimada e sua história também foi junto. Poucos descendentes indígenas sabem qual sua etnia.
As opções que o IBGE sugere é inadequada para a nossa realidade, causa dúvidas, preconceitos, e não vai ajudar na hora de definir se o Brasil é branco, negro,amarelo, pardo ou indígena. Hoje falamos em etnias. O IBGE deveria aproveitar este momento e atualizar a coleta de dados de uuma forma moderna e condizente com a realidade nacional.
Conversando com Rogério sobre as respostas que ele conseguia, me respondeu que a maioria das pessoas ficam em dúvida na hora de responder qual sua cor, ele disse que muitos se olham e diz:"infelizmente sou negro", outro não consegue se identificar, não quer ser negro, nem se considera pardo ou amarelo e as vezes respondem que é branco. A proposta de branqueamento que a elite brasileira tanto lutou no passado parece se tornar, pelo menos oficialmente,realidade. Isso me deixou preocupada, pois quando o censo terminar não saberemos na realidade qual a cor do Brasil.
Very well composed, very well written. For me, ´gringo`, it is not a big surprise. Brazil is still struggling with a racial problem. This story proves clearly that Brazil is struggling with a historical racial roots-problem, specific the black (African) and indian population. Bravo Belgna, the last sentence gives the readers a lot to think. Go on!
ResponderExcluirConcordo com suas preocupações, Belgna, mas tenho alguns comentários. 1. A pergunta do Censo é qual sua cor ou raça. Não é somente cor. Na verdade, deveria ser cor/raça e etnia para dar conta das identidades étnicas e raciais. 2. Não há o termo negro no censo e sim PRETO. Agora em 2010, os que não se identificam como indígenas devem dizer sua etnia, pois isto não tem a ver com fenótipo. 3. Os que não se identificam como pretos/as, brancos/as ou amarelos/as (asiáticos/as e descendentes) acabam se colocando na categoria de pardos/as. Pretos/as e pardos/as tem tido a mesma situação social desde os anos 1980 o que ajuda a propor e acompanhar as políticas de Ações Afirmativas para negros (somatório de pretos e pardos). 4. A identificação como negro/a ou indigena é uma construção que vai além dessas categorias censitárias. Um abraço.
ResponderExcluirBelgna, gostei da sua atitude... Pediu ao funcionário do IBGE que marcasse a opção com a qual você MAIS SE IDENTIFICA (nativo-descendente, ou seja, descendente de índios)... Mesmo que não tenha havido apenas indígenas entre seus ancestrais, parece que a presença nativa foi a mais determinante em sua família.
ResponderExcluirNo entanto, discordo da idéia de classificar por cor... Na minha opinião, o que vale é a descendência e não o tom de pele.
Também discordo do IBGE em alguns pontos, por exemplo:
1º) Nem todos os nativo-descendentes sabem a qual tribo pertencia seu avô, ou seu bisavô, ou quaisquer outros ancestrais nativos... Como você mesma afirmou: A maioria da população indígena foi dizimada e sua história também foi junto... Portanto, acho que essa exigência deveria ser mais flexível... Quem não souber qual é sua tribo ancestral também deve ter o direito de se identificar como nativo-descendente ou indígena.
2º) Disponibilizando a classificação como “pardo”, o IBGE permite que gente ‘sem cultura’ continue pensando que é correto se definir pelo tom de pele… Moreninho, café com leite, pardo, ou pior…mulato (definição que compara um ser humano a um animal, a mula).
Não existe PARDO em países sérios... Nos países cuja população tem um bom nível cultural, ou você é caucasiano, latino, oriental, nativo (como os índios), ou afro-descendente (incluíndo-se os imigrantes africanos, e incluíndo-se NEGROS PUROS OU MISCIGENADOS).
A maldita tentativa de branqueamento do Brasil tem surtido efeitos, no entanto, sei que ainda há uma negritude pela qual lutar... Não sou contra os brancos, pois “maldita” não é uma etnia, e sim a idéia de exaltação de um grupo étnico em detrimento de outros.
O orgulho de ser negro tem aumentado, e veio pra ficar !!!