Dando continuidade à Formação territorial do Estado do Tocantins, vou falar do seu processo histórico, os seus primeiros invasores e como foi surgindo o seu território.
A formação territorial do Estado do Tocantins
Capitanias de Goiás
1809 Fonte: OLIVEIRA, Ivanilton José,
readaptação 2003.
A
formação territorial do Estado do Tocantins tem um longo processo histórico.
Ela foi se formando conforme sua ocupação espacial e interesses socioeconômicos
e políticos. Como o Tocantins era extensão territorial do Estado de Goiás, e
este, colônia pertencente capitania de São Paulo, fica impossível falar de sua
formação territorial, sem retomarmos a História de Goiás e sua relação com São
Paulo.
“Falar
de território é fazer uma referência implícita à noção de limite que, mesmo não
sendo traçado, como em geral ocorre, exprime a relação que um grupo mantém com
uma porção do espaço”. (Raffestin, 1980).
Goiás
foi descoberto por paulistas e era uma área teoricamente pertencente á
capitania de São Paulo. Por isso, de inicio, foi considerado um território de
Minas Gerais dentro dessa capitania. (Palacín, 1994).
Quando
os ingleses e franceses foram expulsos da região Norte do Brasil, autoridades
do reino tentam achar uma forma de proteger esta e, colonizá-la. Assim, mandam,
em 1625, a
primeira missão jesuíta comandada por Cristóvão Severim de Lisboa para
colonizar e cristianizar os nativos.
Enquanto
os Bandeirantes paulistas invadiam o Alto e Médio Araguaia para captura de
índios que eram levados para as lavouras de cana-de-açúcar e engenhos em São Vicente (São
Paulo), os jesuítas instalam-se no Baixo Tocantins, onde formam o aldeamento
Vila de Cametá. Este povoamento começou a prosperar com negócios de carne de
sol, açúcar e riquezas naturais, transportados por canoas pelo Rio Tocantins,
até Vila de Belém do Grão-Pará.
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Um
dia, que os sofrimentos subiram de ponto, um dia que o grito de milhares de
vitimas ecoou por todas as tribos, e fez sublevar as iras filhos das florestas,
o ódio e a vingança começaram a manifestarem-se terríveis, e em cada golpe que
desfechava, viam os homens do governo e sentia o povo quanto tinha sido errada
a política do morticínio e da devastação. Ódio e vingança foram esse tão
profundo, que se transmitido de geração em geração como uma herança sagrada, quase
como um dogma religioso. (ALENCASTRE, 1979 p.21)
Com
as Entradas que saíam de Pernambuco e da Bahia através do Rio São Francisco,
final do século XVII, abriu caminho para a criação de gado e descoberta de ouro
no Alto São Francisco e Alto Tocantins. Região compreendida como Terras Novas,
Gerais dos Duros (hoje, divisa de Tocantins, Goiás e Bahia) e Chapada das
Mangabeiras (hoje divisa do Tocantins, Piauí e Maranhão).
Com
as constantes entradas de pernambucanos, paulistas e baianos no vale do São
Francisco, devido à maior facilidade de trânsito e menor distância para a Bahia
e Pernambuco. A coroa resolveu delimitar a margem leste desse rio para ser
conquistada pela Bahia e a margem oeste (do são Francisco até o Alto
Tocantins), ficaria com Pernambuco, cujos limites iam até Canindé, hoje Bahia
(Anuário do Tocantins, 2000).
A
partir daí, começou a afluir gente para povoação das novas terras descobertas,
começaram a surgir povoados nas proximidades dos rios. Eram vaqueiros que
vinham com suas boiadas, fugindo da seca que assolava Pernambuco, Piauí, e
Bahia. Eles vinham procurando terras novas, pastos bons. Assim, como Terras
Novas, a região ficou conhecida. Eles vinham com suas famílias, fixando-se
nesses locais.
No
século XVIII, vaqueiros descobrem ouro em Terras Novas.
(Minaçú-Go, Chapada e Natividade-TO). A região passa a ser o novo eldorado para
milhares de vaqueiros, donos de currais, funcionários do reino e aventureiros.
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Os
paulistas passam a administrar a região do Tocantins. A primeira medida foi
fechar a navegação dos rios Araguaia e Tocantins com o comércio de Belém do
Grão Pará, para evitar contatos com os maranhenses e o contrabando de ouro.
(Anuário do Tocantins, 2000).
Mas
nem a proibição dos paulistas conseguiu conter a ocupação do Alto Tocantins
(Norte de Goiás). Os conflitos aumentavam, pois os paulistas e o Reino só
vislumbravam lucros e as divergências com a Coroa só iam formando um estado de
desconfiança e revolta na população. A região era pobre, mal-assistida e de
difícil acesso e ainda tinha de pagar altos impostos de seus produtos.
Com
a Independência de Goiás (1744) e a queda da mineração (1779) a região fica
completamente abandonada pela Capitania e os Bandeirantes, permanecendo somente
os garimpeiros, vaqueiros ali já havia se fixado. Os donos de currais[1] aumentam o gado para ativar
a economia da região, tornaram-se verdadeiros latifundiários, e com poderes
para disputar e exigir do Reino melhorias para a região e possíveis trocas de
favores políticos.
No
inicio do século XIX a região do Norte de Goiás, tem incentivos do Reino, pois
ela começa a chamar a atenção com novas possibilidades de lucros. Nesse período
de abandono da Capitania, a Região descobre outras formas de comércio, como a
exportação de carne de sol, couro, fumo, algodão, cachaça, açúcar. Eles já
mantinham uma forte relação comercial com as Comarcas do Pará, via Belém e até
importavam produtos manufaturados da Europa. E também sal, animais de carga de
Recife e Salvador. Pelo porto de Belém, compravam escravos vindos da África,
ferro e chumbo. (Silva, 1996).
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Devido
constantes reclamações dos curraleiros nortense por cobranças abusivas de
impostos taxados sobre a pecuária e forte influencia política do Ouvidor
Joaquim
Teotônio Segurado, em 1809,
a capitania de Goiás foi dividida em duas Comarcas : O Rio
Araguaia e o atual Estado de Goiás seriam administrados por um governador, o
capitão general Manoel Inácio de Sampaio e o Rio Tocantins, pelo Ouvidor
Joaquim Theotônio Segurado, político de confiança do Reino. Sendo designada a
construção de sua sede na foz do Rio Itacaiúnas, onde hoje é Marabá-PA. O
Ouvidor tinha plenos poderes para nomear, exonerar, taxar, cobrar, impostos e
criar novos Distritos administrativos. Um de seus grandes problemas era
administrar uma extensa área territorial, com uma população escassa e esparsa.
Ele resolve mudar a província para outra localidade mais central e de melhor
acesso com os portos. No Norte da comarca só existiam as povoações de são Pedro
de Alcântara (Carolina-MA) e Riachão (Goiatins). Foi autorizada pelo príncipe
regente, D. João VI (ele chegou de Portugal em 1808). A nova sede teria o mesmo
nome, mas passariam a ter outros povoados como Julgados[2]:
Porto Real (Porto Nacional), Natividade, Conceição, Arraias, São Félix,
Cavalcante, Traíras e Flores. O governo foi sediado em Cavalcante até a
construção da nova sede.
“E
eis que D. João VI assina a criação da comarca de São João das Duas Barras, ex
Norte de Goiás, plantando, assim, a semente da sonhada província do Tocantins,
hoje Estado do Tocantins”. (Silva, 1996).
Desde
o início da descoberta de Goiás, a luta territorial foi constante. A Região
Norte do Estado foi ora ganhando, ora perdendo território até chegar ao último
grande contorno territorial em 1988 com a formação do Estado do Tocantins.
A
Região Norte do Estado de Goiás, hoje Estado do Tocantins, tinha a formação de
Julgados (conforme figura) que era uma forma de facilitar a administração
local. Todo o Julgado tinha uma cidade sede administrativa. Esta divisão
permaneceu até 1809, quando Goiás foi dividido em duas Comarcas.
[1]
Os donos de currais eram os
patrões dos vaqueiros, eles eram os responsáveis pelas sesmarias, sendo assim,
os donos das terras.
[2]
Julgado era uma região administrativa com uma cidade sede principal.
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